Os Índios da Meia-Praia
Aldeia da
Meia-Praia, ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga da melhor que sei e faço
De Monte Gordo
vieram, alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta outro foi de marcha a ré
Quando os teus
olhos tropeçam no voo de uma gaivota
Em vez de peixe vê peças de oiro caindo na lota
Quem aqui vier
morar, não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra se constrói uma cabana
Tu trabalhas
todo o ano, na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano, levam-te o couro cabeludo
Quem dera que
a gente tenha de Agostinho a valentia
Para alimentar a senha de esganar a burguesia
Adeus disse a
Monte Gordo, nada o prende ao mal passado
Mas nada o prende ao presente se só ele é o enganado
Oito mil horas
contadas laboraram a preceito
Até que veio o primeiro documento autenticado
Eram mulheres
e crianças, cada um com seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra, quem diz o contrário é tolo
E se a má
língua não cessa, eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza dos índios da Meia-Praia
Foi sempre a
tua figura tubarão de mil aparas
Deixas tudo à dependura quando na presa reparas
Das eleições
acabadas do resultado previsto
Saiu o que tendes visto muitas obras embargadas
Mas não por
vontade própria porque a luta continua
Pois é dele a sua história e o povo saiu à rua
Mandadores de
alta finança fazem tudo andar pra traz
Dizem que o mundo só anda tendo á frente um capataz
Eram mulheres
e crianças cada um com seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra, quem diz o contrário é tolo
E toca de
papelada no vaivém dos ministérios
Mas hão de fugir aos berros inda a banda vai na estrada.
https://expresso.pt/50anos/100-personalidades/2023-02-16-span-style-colore4bb81Jose-Afonso-span-brA-voz-da--fraternidade--setimo-dos-50-perfis-que-definem-50-anos-de-historia--52e7fb73
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