Chuva
"A chuva tem um vago segredo de ternura, algo de sonolência resignada e amável,
uma música humilde se desperta com ela que faz vibrar a alma adormecida na paisagem.
É um beijar azul que recebe a Terra,
o mito primitivo que torna a realizar-se.
O contacto já frio de céu e terra velhos
com uma mansidão de entardecer constante.
É a aurora do fruto. A que nos traz as flores
e nos unge do sagrado espírito dos mares.
A que derrama vida sobre as sementeiras
e na alma tristeza do que não se sabe.
(...)
Oh! chuva silenciosa que as árvores amam
e és sobre a planície doçura emocionante;
dás à alma as mesmas névoas e ressonâncias
que pões na alma adormecida da paisagem."
Federico Garcia Lorca,
in Livro de Poemas, 1921
(excerto do poema "Chuva")

Sem comentários:
Enviar um comentário