segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Momento de paragem com Federico Garcia Lorca

Chuva

 "A chuva tem um vago segredo de ternura, algo de sonolência resignada e amável,

uma música humilde se desperta com ela que faz vibrar a alma adormecida na paisagem.

É um beijar azul que recebe a Terra,
o mito primitivo que torna a realizar-se.
O contacto já frio de céu e terra velhos
com uma mansidão de entardecer constante.

É a aurora do fruto. A que nos traz as flores
e nos unge do sagrado espírito dos mares.
A que derrama vida sobre as sementeiras
e na alma tristeza do que não se sabe.
(...)
Oh! chuva silenciosa que as árvores amam
e és sobre a planície doçura emocionante;
dás à alma as mesmas névoas e ressonâncias
que pões na alma adormecida da paisagem."

Federico Garcia Lorca, 
in Livro de Poemas, 1921 
(excerto do poema "Chuva")

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