Há quem veja o ano
começar em janeiro. Eu vejo-o começar em setembro.
Setembro sempre foi mais realista do que
janeiro, não tem fogo de artifício, nem promessas exageradas. Traz-nos apenas
uma folha em branco, discreta, e espera que sejamos nós a escrever nela.
Depois das férias, quando regressamos ao
ritmo, é impossível não sentir que algo recomeça. Os dias ainda têm sol, mas as
noites já pedem casacos. É nesse meio-termo que percebemos que a vida é feita
de ciclos. Setembro não nos promete nada; apenas nos devolve a normalidade com
uma ponta de esperança. É como se dissesse: “Tens mais uma oportunidade. Queres
tentar outra vez?”
Há quem odeie este mês. Dizem que é o
mês das despedidas do verão, das rotinas pesadas, dos despertadores sem dó. Mas
eu aprendi a gostar dele, talvez porque nos obriga a olhar de frente para a
vida. Janeiro ainda é sonho, setembro já é realidade. É quando percebemos se o
que desejámos há meses atrás se cumpriu ou se ficou pelo caminho. É quando
podemos ajustar rotas, trocar prioridades, voltar a insistir ou simplesmente
largar o que não faz sentido.
Setembro tem cheiro a mudança. É o mês
em que muitos começam empregos novos, em que os campeonatos regressam.
Recomeçar não é fácil. Obriga-nos a
admitir que algo não deu certo ou que algo ficou por fazer. Mas também nos
lembra que nunca é tarde para tentar de novo. Setembro não precisa de
resoluções escritas em agendas; basta a coragem de dar um passo, mesmo que
pequeno.
Talvez por isso eu goste tanto deste
mês. Porque ele não tem a pressa nem a euforia dos inícios, mas sim a serenidade
de quem sabe que o tempo passa e que só depende de nós o que vamos fazer com
ele. Setembro é um convite: não a começar do zero, mas a continuar de onde
parámos, com mais consciência, mais verdade e, quem sabe, mais coragem.
Fábio Teixeira