Rubem
Alves, Gaiolas ou Asas, 2004, Asa
«Comecei a gostar dos livros
mesmo antes de saber ler. Descobri que os livros eram um tapete mágico que me
levavam instantaneamente a viajar pelo mundo… Lendo, eu deixava de ser menino
pobre que era e tornava-me noutro. Eu vejo-me assentado no chão, num dos
quartos do sobradão do meu avô. Via figuras. Era um livro. Folhas de tecido
vermelho. Nas suas páginas alguém colara gravuras, recortadas de revistas. Não
sei quem o fez. Só sei que quem o fez amava as crianças. Eu passava horas a ver
as figuras e não me cansava de vê-las de novo.(…) Um outro livro que eu amava
pertencera à minha mãe em criança. Era um livro muito velho. Façam as contas:
minha mãe nasceu em 1896… Na capa havia um menino e uma menina que brincavam com
o globo terrestre. Era um livro que me fazia viajar por países e povos
distantes e estranhos. (…) Onde foi parar o livro da minha mãe? Não sei. Também
não importa. Ele continua aberto dentro de mim.» (pp 69-70)
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