segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Onda Pina- a poesia em movimento

Dando seguimento ao convite lançado pelo Museu Nacional da Imprensa, hoje as turmas de Louredo entraram na onda Pina- a poesia em movimento.
Todos os alunos, desde os meninos do Jardim de Infância aos alunos do 4º ano, ficaram a conhecer Manuel António Pina, alguns dos seus livros e alguma da sua poesia.

Aqui ficam alguns dos poemas que foram ditos:

A Ana quer
nunca ter saído da barriga da mãe.
cá fora está-se bem,
mas na barriga também era divertido.


O coração ali à mão,
os pulmões ali ao pé,
ver como a mãe é
do lado que não se vê.


O que a Ana mais quer ser
quando for grande e crescer
é ser outra vez pequena:
não ter nada que fazer
não ser pequena e crescer
de vez em quando nascer
e voltar a desnascer.


 Basta imaginar

Basta imaginar
um pássaro para o aprisionar,
e depois imaginar o ar para o libertar
e imaginar asas para ele voar
e imaginar uma canção para ele cantar.

 O aviador interior


 
O ar não se vê
não se sente não se ouve
mas quanto mais se sobe
mais não sei quê

E quando se sobe
sem sair do chão?
quando a cabeça se move
e o resto do corpo não?


A cabeça subindo
pelo lado de dentro
e o teu pensamento
tão limpo e tão lindo

Tão maravilhoso
como o dum matemático
tão rigoroso
como o dum mágico

Embora às vezes não pareça
embora te digam que não
tens um campo de aviação
dentro da tua cabeça.

 


A Ana lê muito devagar, só uma letra de cada vez. Enquanto ela está a só uma letrar, a Sara letra duas ou três.
A Ana tem tempo de lá chegar.
Os pês, os tês, os bês, os mês, não fogem se ela se demorar. A Sara acaba e começa outra vez.
A Ana lê e põe-se a pensar
nos quês, nos porquês, nos para quês, e volta atrás para confirmar porque, afinal de contas, talvez.
A Sara prefere entrar
nas palavras, nos desenhos, e ficar. Existir nas histórias, em vez de ver, viver; em vez de pensar, de pausar, de perspicar, ser ela a ser o que o herói fez. Sai dos livros sem sair do lugar e corre o mundo de lés e lés.
A Sara lê assim, a Ana mais devagar,
e depois ficam as duas a conversar. A Ana conta: "Era uma vez..." E a Sara: "Era eu uma vez..."




Era uma vez um menino...

que não queria comer sopa de letras.
Podiam lá estar coisas bonitas escritas,
mas para ele era tudo tretas...
Podia lá estar escrito COMER,
podia lá estar GOIABADA,
Como ele não sabia ler,
a sopa não lhe sabia a nada.
Tinha no prato uma FLOR,
um NAVIO na colher,
comia coisas lindíssimas
sem saber mas ele queria lá saber!
Até que um amigo com todas as letras lhe ensinou a soletrar a sopa.
E ele passou a ler a sopa toda.
E até o peixe, a carne, a sobremesa, etc....
 
 
E PARA CIMA
            PARA BAIXO 
              
A Ana tinha um ió-ió muito bonito       
que fazia tudo o que ela queria
quando ela dizia "para cima" o ió-ió ia para baixo
quando ela dizia "para baixo" o ió-ió ia para cima
     
Como gostava muito daquele ió-ió
a Ana fazia de conta que não percebia
para o ió-ió ir para cima dizia "para baixo"
para o ió-ió ir para baixo dizia "para cima"
   
e como o ió-ió gostava muito da Ana
era o ió-ió mais obediente que havia
quando ia para cima fazia de conta que ia para baixo
quando ia para baixo fazia de conta que ia para cima

 
 
Coisas que não há que há

Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há.
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num lugar onde só eu ia...

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